quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ALTOS E BAIXOS EM "A PELE QUE HABITO"

Último de Almodóvar surpreende e depois cai...

Antes de mais nada, já é bom começar dizendo que não sou um dos grandes apreciadores dos filmes de Almodóvar. Admiro que faça um cinema diferente e autoral, mas seus temas não estão entre meus preferidos. Sem dúvida é um cineasta controverso, inovador e que não tem medo de ir onde outros colegas seus não ousariam ir, realmente valorizo isso. Filmes como Tudo Sobre Minha Mãe, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos e Volver são bons, mas ele não é minha primeira opção de busca quando sai um novo filme seu.

A Pele que Habito teve grande repercussão e polêmica ao ser lançado em diversos festivais, não só por ser mais um filme do diretor, mas pela sua nova experiência em um gênero até então ainda não experimentado, o terror. Mesmo sendo um gênero diferente, está presente neste filme a maioria dos tópicos que costuma abordar e que também o caracterizam.


Seu sucesso atingiu o mundo todo. É o filme "alternativo" da moda. Até me senti um pouco constrangido em dizer que ainda não o havia assistido ainda. "Sério mesmo que você ainda não viu este último e maravilhoso filme do Almodóvar?" Pois é, demorei um pouco para ver, principalmente, por não morrer de amores pelas obras do diretor. Seu exagero pelo feminismo às vezes me incomoda e ainda acho estranho... Ele adora ter como personagens mulheres fortes em seus filmes, porém seus papéis em boa parte são de vítimas, desde infidelidade até abusos sexuais. Usa demais assuntos relacionados à diversidade sexual e a transexualidade, o que acho até moderno e atual, mas ainda assim acho que exagera um pouco na dose. Quero deixar claro que o filme está longe de ser ruim, tem boas qualidades, mas entre prós e contras não me convenceu.

Sobre a história, Bandeiras é um cirurgião que desde a morte de sua esposa, em um incêndio, vem tentando criar um tipo de pele à prova de queimaduras, cortes e outros danos. Para isso, mantém uma mulher para aperfeiçoar seus testes. E o desenvolvimento deste produto mostrará as reais intenções do cirurgião.


Não dá para negar que a ideia é interessante. Nesta história, que parece uma versão moderna da clássica de Frankenstein, Almodóvar faz boas referências ao estilo Hitchcock de conduzir uma trama, junto a uma trilha sonora bem encaixada. A fotografia é muito boa e visualmente é uma obra extremamente competente, como em seus outros filmes. A dupla principal tem atuação de ponta com Antonio Bandeiras, o cirurgião meio sedutor e perturbado, e Elena Anaya, que interpreta a vítima de suas experiências. E entre outros pontos altos, vale mencionar a revelação no meio da história, que confesso ter sido surpreendido e me ajudou a engolir bem a primeira parte cansativa.

E agora vamos aos "poréns" do filme. Deixando de lado estudos mais profundos sobre as simbologias da história ou algo do gênero, que seus fãs poderiam mencionar, primeiramente, gostaria de comentar sobre a evolução da trama. Para mim, foi uma forma de mostrar como estragar o desenvolvimento de uma história. Conduzido de forma não linear (às vezes me parece até meio desnecessário), a ótima revelação que liga quase todos os pontos na história, não sustenta o restante do filme que se torna previsível. Um declínio decepcionante.

Outra coisa que não consegui entender é a presença, para mim, dispensável do irmão de Antonio Bandeiras, na primeira parte do filme. Ele, em um vestido de tigre ridículo, que é um disfarce de carnaval, parece que entra na história apenas com o intuito de chocar a quem assiste e trazer um pouco de ação para a história. E ainda por cima, tem um sotaque que parece misturar espanhol com um português de Portugal que chega a ser cômico. Outro personagem que poderia ter um melhor acabamento é a mãe deles, que faz um papel submisso e de pouca relevância.


Em relação à classificação do filme como terror, quem não aprecia o gênero pode ficar tranquilo porque a ideia do filme não é ser um terror convencional. Não há sustos. O terror está na perversidade dos personagens e nas cenas indigestas. Acho isso interessante e diferente, na teoria, e me lembra até as primeiras realizações do diretor David Cronenberg que explorou bastante as transformações corporais com significados, mas a prática de Almodóvar é outra...

Enfim, só para concluir e tentar não estragar as surpresas de quem ainda não assistiu, é difícil criticar Almodóvar pela grande legião de apreciadores fervorosos de seu trabalho e, provavelmente, a maioria não concordará com o que escrevi, mas é a visão que tive deste filme que, apesar de suas qualidades, volto a dizer que não me convenceu de sua supervalorização. Para quem se interessar, acho que ainda está passando nos cinemas, porém certamente em circuito bem reduzido. Quem preferir aguardar, irá encontrá-lo nas locadoras em breve.

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