segunda-feira, 23 de abril de 2012

20 ANOS DEPOIS, TWIN PEAKS!

Após duas décadas de seu lançamento na televisão, está disponível em nosso país o Box completo (Gold Edition), distribuído pela Paramount, que traz as duas temporadas, o filme-piloto e mais um bom número de extras inéditos de uma das séries mais cultuadas da televisão, Twin Peaks. Até então, nas locadoras brasileiras, os apreciadores da série nunca tiveram uma apresentação digna de colecionador.


Lançado originalmente em 1990 na televisão americana, a chegada em DVD somente aconteceu na década passada, com as temporadas distribuídas separadamente. Difícil entender esta demora pela repercussão que teve entre os cinéfilos na época e pelo responsável ter sido uma das cabeças mais enigmáticas e influentes do cinema moderno, David Lynch.

Desta vez, a coleção chegou como merecia. Entre os extras prometidos, talvez o mais interessante seja o documentário "Segredos de um Outro Lugar", que explora toda a produção em detalhes. Conta também com entrevistas recentes envolvendo o elenco e o diretor, uma matéria que acompanha fãs no Festival Twin Peaks 2006 e até um episódio do Saturday Night Live que satiriza a série. Além também de muitas cenas perdidas e inéditas que não acompanhavam o primeiro lançamento.

Para quem não se lembra, a história gira em torno dos habitantes de uma pequena cidade chamada Twin Peaks, quando testemunham o crime de um de seus moradores, Laura Palmer. A morte dela já ocorre no início e desencadeia uma série de descobertas sobre ela e também sobre os moradores da cidade. Segredos são expostos na medida em que o detetive encarregado, Dale Cooper (Kyle MacLachlan), se aprofunda na investigação.


Muito mais do que uma simples investigação para descobrir o culpado, o mistério é, na realidade, um estudo do comportamento humano... Um estudo ao estilo David Lynch, é claro. Personagens que escondem na aparência, segredos não imagináveis e absurdos. Comportamento e atitudes comuns não fazem parte do universo criativo do diretor. A narrativa obscura, complexa e surreal são suas marcas já consagradas. Quem assiste seus trabalhos, acompanha sua imaginação estranha, porém fértil e rica em significados subjetivos.

Lynch é daqueles poucos diretores que causam impacto ao lançar um novo filme. Tem na bagagem um dos mais comentados e explorados filmes da última década, Cidade dos Sonhos. Porém, foi no início dos anos 90 que dirigiu e produziu Twin Peaks. Sua vontade de produzir uma série televisiva era grande e conseguiu, principalmente, pelo sucesso inesperado do primoroso Veludo Azul. Mentor e produtor da série, dirigiu apenas alguns episódios, mas a finalização dos outros sempre passavam pelo seu aval.

E como mencionei Veludo Azul, a ligação entre ambos é evidente. Sem este filme, talvez o melhor do diretor, a série provavelmente não teria ido ao ar. O interessante é que, mesmo não sendo um filme acessível ao público em geral, Veludo Azul fez um sucesso considerável tanto de crítica quanto de público. E este bom retorno, habilitou ao diretor à ir em frente com esta série, que leva muito do estilo do filme. O mistério com toques surreais está presente em ambos. Até o ator principal é o mesmo, Kyle MacLachlan, que o acompanhou em outros de seus filmes como Duna.

No Brasil, como passou na Rede Globo (aliás, não entendo até hoje como isso aconteceu!), não teve boa resposta do público na época, para ter o status de cult muitos anos depois. Curiosamente, a emissora tomou a liberdade de alternar alguns episódios, pulando a exibição de outros, e, por fim, terminou a transmissão da série sem passar seu final. Quem acompanhava teve que aguardar a saída da série em VHS...

Confesso que não acompanhei a série quando passou na televisão e só tive a oportunidade de assisti-la há alguns anos atrás. Considero o piloto e a primeira temporada de altíssimo nível e fazem parte das melhores realizações do diretor, em minha opinião. Porém a linguagem de Lynch se perde um pouco na segunda temporada e se torna mais cansativa de assistir. O brilho da série diminui um pouco, mas, mesmo assim, não compromete o resultado final. Vale a pena acompanhar a série na íntegra.

Para quem se interessar ir mais a fundo, após o cancelamento da série, Lynch ainda fez um filme que é como um prólogo da série e se chama Os Últimos dias de Laura Palmer.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ALTOS E BAIXOS EM "A PELE QUE HABITO"

Último de Almodóvar surpreende e depois cai...

Antes de mais nada, já é bom começar dizendo que não sou um dos grandes apreciadores dos filmes de Almodóvar. Admiro que faça um cinema diferente e autoral, mas seus temas não estão entre meus preferidos. Sem dúvida é um cineasta controverso, inovador e que não tem medo de ir onde outros colegas seus não ousariam ir, realmente valorizo isso. Filmes como Tudo Sobre Minha Mãe, Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos e Volver são bons, mas ele não é minha primeira opção de busca quando sai um novo filme seu.

A Pele que Habito teve grande repercussão e polêmica ao ser lançado em diversos festivais, não só por ser mais um filme do diretor, mas pela sua nova experiência em um gênero até então ainda não experimentado, o terror. Mesmo sendo um gênero diferente, está presente neste filme a maioria dos tópicos que costuma abordar e que também o caracterizam.


Seu sucesso atingiu o mundo todo. É o filme "alternativo" da moda. Até me senti um pouco constrangido em dizer que ainda não o havia assistido ainda. "Sério mesmo que você ainda não viu este último e maravilhoso filme do Almodóvar?" Pois é, demorei um pouco para ver, principalmente, por não morrer de amores pelas obras do diretor. Seu exagero pelo feminismo às vezes me incomoda e ainda acho estranho... Ele adora ter como personagens mulheres fortes em seus filmes, porém seus papéis em boa parte são de vítimas, desde infidelidade até abusos sexuais. Usa demais assuntos relacionados à diversidade sexual e a transexualidade, o que acho até moderno e atual, mas ainda assim acho que exagera um pouco na dose. Quero deixar claro que o filme está longe de ser ruim, tem boas qualidades, mas entre prós e contras não me convenceu.

Sobre a história, Bandeiras é um cirurgião que desde a morte de sua esposa, em um incêndio, vem tentando criar um tipo de pele à prova de queimaduras, cortes e outros danos. Para isso, mantém uma mulher para aperfeiçoar seus testes. E o desenvolvimento deste produto mostrará as reais intenções do cirurgião.


Não dá para negar que a ideia é interessante. Nesta história, que parece uma versão moderna da clássica de Frankenstein, Almodóvar faz boas referências ao estilo Hitchcock de conduzir uma trama, junto a uma trilha sonora bem encaixada. A fotografia é muito boa e visualmente é uma obra extremamente competente, como em seus outros filmes. A dupla principal tem atuação de ponta com Antonio Bandeiras, o cirurgião meio sedutor e perturbado, e Elena Anaya, que interpreta a vítima de suas experiências. E entre outros pontos altos, vale mencionar a revelação no meio da história, que confesso ter sido surpreendido e me ajudou a engolir bem a primeira parte cansativa.

E agora vamos aos "poréns" do filme. Deixando de lado estudos mais profundos sobre as simbologias da história ou algo do gênero, que seus fãs poderiam mencionar, primeiramente, gostaria de comentar sobre a evolução da trama. Para mim, foi uma forma de mostrar como estragar o desenvolvimento de uma história. Conduzido de forma não linear (às vezes me parece até meio desnecessário), a ótima revelação que liga quase todos os pontos na história, não sustenta o restante do filme que se torna previsível. Um declínio decepcionante.

Outra coisa que não consegui entender é a presença, para mim, dispensável do irmão de Antonio Bandeiras, na primeira parte do filme. Ele, em um vestido de tigre ridículo, que é um disfarce de carnaval, parece que entra na história apenas com o intuito de chocar a quem assiste e trazer um pouco de ação para a história. E ainda por cima, tem um sotaque que parece misturar espanhol com um português de Portugal que chega a ser cômico. Outro personagem que poderia ter um melhor acabamento é a mãe deles, que faz um papel submisso e de pouca relevância.


Em relação à classificação do filme como terror, quem não aprecia o gênero pode ficar tranquilo porque a ideia do filme não é ser um terror convencional. Não há sustos. O terror está na perversidade dos personagens e nas cenas indigestas. Acho isso interessante e diferente, na teoria, e me lembra até as primeiras realizações do diretor David Cronenberg que explorou bastante as transformações corporais com significados, mas a prática de Almodóvar é outra...

Enfim, só para concluir e tentar não estragar as surpresas de quem ainda não assistiu, é difícil criticar Almodóvar pela grande legião de apreciadores fervorosos de seu trabalho e, provavelmente, a maioria não concordará com o que escrevi, mas é a visão que tive deste filme que, apesar de suas qualidades, volto a dizer que não me convenceu de sua supervalorização. Para quem se interessar, acho que ainda está passando nos cinemas, porém certamente em circuito bem reduzido. Quem preferir aguardar, irá encontrá-lo nas locadoras em breve.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

PENA DE MORTE POR WERNER HERZOG

O diretor alemão Werner Herzog terá a primeira parte de seu mais novo documentário Death Row (Corredor da Morte), sobre a pena de morte, exibida no Festival de Berlim. Este festival teve início no último final de semana e termina dia 19 deste mês. É um documentário dividido em 4 partes e apresenta o caminho iminente à morte de 5 condenados nos EUA. Pesado? Talvez. Interessante? Sim.


Após a exibição no Festival alemão, este longo documentário irá direto para a TV americana e passará em um dos canais da Discovery. No ano passado, ele já tinha realizado o documentário Into the Abyss, onde havia exposto a vida de um condenado à morte, Michael Perry, e das pessoas afetadas pelo seu crime. Herzog faz de Death Row um estudo mais profundo neste assunto, que parece tê-lo fascinado, trazendo a visão de outros que terão o mesmo desfecho.

Claro que o assunto é polêmico e forte, mas parece ser uma boa pedida para quem tiver interesse no assunto e não for dos mais impressionáveis. O diretor é uma boa referência no cinema e tem uma extensa filmografia. Realizou bons filmes de ficção, como a refilmagem de Nosferatu, o clássico Fitzcarraldo e, recentemente, o bom filme O Sobrevivente, com Christian Bale, e outra refilmagem, Vício Frenético, com Nicolas Cage. Mesmo tendo feito outros filmes de ficção, tem se dedicado mais a realização de documentários contundentes.

Ainda sem trailer do Death Row, que também não sei quando aparecerá na programação brasileira, ou até se passará, abaixo segue o trailer do anterior, Into the Abyss, para ter uma ideia. Diretor bom e assunto polêmico são sempre boas referências.






quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

THE ARTIST E O CINEMA MUDO

Filme mudo na era 3D valoriza o passado do cinema.

De tempos em tempos nos deparamos com novidades que marcam ou revolucionam o cinema. Foi assim quando há pouco tempo atrás Tarantino fez Cães de Aluguel e renovou os diálogos em filmes de ação, enquanto A Bruxa de Blair mostrou a força da divulgação do cinema pela internet. Matrix foi lançado e seguido por uma legião de fãs maravilhados por suas cenas de ação bem coreografadas e seu conceito. E ainda mais recente, a super-hiper-mega produção de Avatar que explorou ao máximo os modernos recursos tecnológicos da indústria cinematográfica. Isso apenas para citar algumas das mudanças nos últimos tempos.

Porém, mesmo nesta era de efeitos especiais mais realistas que nunca, o cinema consegue nos surpreender de outra forma, desta vez com um filme mudo, em preto e branco, chamado The Artist.


Arrebatando prêmios em diversos festivais, incluindo o Globo de Ouro, entra como forte candidato nos principais prêmios do Oscar, que acontecerá no final deste mês de fevereiro. É bem curioso acompanhar esta repercussão por um filme como este em pleno século XXI. E quem poderia imaginar o interesse que este filme causaria a ponto de ser um dos mais comentados no momento?

O cinema, que teve seu início no final do século 19, levou algumas décadas para ter seu primeiro filme falado. Com o desenvolvimento inicial do cinema e a expansão em diversos países, foco na Europa e EUA, o cinema mudo, a partir de 1920, viveu sua melhor fase e também sua queda. Com produções que variavam em diversos gêneros, da ação à comédia, do romance ao terror, dos musicais aos épicos e por aí vai, muitas pérolas cinematográficas realizadas nesta época, influenciaram boa parte dos filmes que assistimos hoje em dia. Os primeiros filmes de vampiros (Nosferatu), O Fantasma da Ópera e Robin Hood, entre outras adaptações clássicas, tiveram suas primeiras versões nesta época. Clássicos de Charles Chaplin e filmes surrealistas como O Cão Andaluz de Luis Buñuel, são alguns entre muitos exemplos que marcaram esta era.


No final dos anos 20, com a evolução esperada da tecnologia, os primeiros filmes falados foram feitos e uma nova revolução no cinema teve início. Aliás, é bom comentar que a história do filme The Artist tem como base a difícil transição do cinema mudo para o falado. Muita gente do meio não conseguiu se adaptar.

Com estréia prevista para este final de semana, dia 10 de fevereiro, será curioso acompanhar a repercussão deste filme no Brasil. Lá fora, já tem gente dizendo que este resgate nostálgico pode ser a mais nova revolução no cinema. Uma certeza você pode ter... Gostando ou não, ao assisti-lo nos cinemas, verá no mínimo algo diferente e, pra quem gosta de cinema, isso já vale muito.